Intolerância à lactose
Escrito por Paulo Oom Sexta, 20 Dezembro 2013 | Visto - 46334
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É um problema
bastante comum. Não se trata, mas os
seus sintomas podem ser atenuados.
A criança não consegue fazer bem a digestão do açúcar que existe no leite, pelo que tem problemas em aceitar este alimento. É um problema bastante comum. E, nalguns casos, pode ser complicado. Não se trata, mas os seus sintomas podem ser atenuados.
A lactose é o tipo de açúcar que existe no leite e nos produtos lácteos. Quando uma criança é intolerante à lactose significa que não consegue fazer bem a digestão deste açúcar e por isso tem problemas em aceitar o leite e os seus derivados. Em alguns casos sente apenas algum desconforto mas em algumas crianças a situação pode ser mais complicada com o aparecimento de cólicas, vómitos ou diarreia.
A ingestão de lactose
A intolerância à lactose é um problema bastante comum. Cerca de 10% das crianças podem sofrer deste problema ao longo da infância. Este aspeto é importante porque o leite é um alimento importante na alimentação da criança. Nos primeiros meses de vida é mesmo o único alimento, mas à medida que a diversificação alimentar vai acontecendo vai perdendo a sua importância até que, por volta da adolescência, de todos os açucares que o jovem ingere (com destaque para os cereais e batatas), cerca de cinco por cento são lactose (principalmente devido à ingestão de leite).
Como a lactose é digerida
No intestino de todas as crianças (e adultos) existem muitas enzimas que são responsáveis pela digestão dos alimentos. Existem enzimas próprias para os açúcares e algumas são muito específicas e responsáveis pela digestão de um tipo de açúcar em especial. É o que acontece com a lactose.
Quando a lactose chega ao intestino existe uma enzima especial, chamada lactase, que é a responsável pela digestão da lactose. O que esta enzima faz é “cortar” a lactose em pedacinhos mais pequeninos, para que estes possam ser absorvidos pelo intestino. A lactose não é absorvida pelo intestino mas os pedacinhos em que é cortada são facilmente absorvidos e vão ser utilizados pelo corpo como fontes de energia.
Quando, por alguma razão, a lactose não é digerida desta forma, acaba por ficar no intestino e servir de alimento às bactérias intestinais acabando por ser transformada em ácido e gás. Por esta razão as crianças (e os adultos) que não digerem bem a lactose acabam por ter as fezes mais ácidas e muito gás nos intestinos.
As causas
A intolerância à lactose surge quando, por alguma razão, a enzima lactase não existe em quantidade suficiente no intestino. Isto pode acontecer por duas razões: em primeiro lugar porque a criança pode ter nascido com menor capacidade de produzir esta enzima. Isto é especialmente frequente nas crianças negras, mas pode acontecer em cerca de 10 por cento de crianças e jovens caucasianos. Além disso, à medida que a criança cresce, e principalmente a partir dos cinco anos, os níveis de lactase no intestino podem começar a decrescer e é esta a razão pela qual alguns adolescentes são intolerantes à lactose apesar de, até aí, sempre terem bebido leite sem problemas.
A segunda razão para existir uma intolerância à lactose, diz respeito a uma intolerância passageira e transitória que acontece sempre que a criança tem uma gastroenterite. Nestas situações os níveis de lactase diminuem transitoriamente até o intestino recuperar e é esta a razão pela qual as crianças, após uma gastroenterite, na maioria dos casos viral, ficam alguns dias (às vezes semanas) com intolerância aos produtos lácteos e a tudo o que contenha lactose.
Como se manifesta
Como já vimos, se por alguma razão não existe no intestino a enzima lactase, a lactose do leite não consegue ser digerida e absorvida mas, pelo contrário, vai servir de alimento às bactérias intestinais que a transformam em ácidos e gases. Por isso mesmo as manifestações clínicas da intolerância à lactose incluem a distensão abdominal por gases, as cólicas, diarreia com fezes ácidas e eritema perianal (devido à irritação da pele pelos ácidos das fezes). Em alguns casos podem também surgir vómitos que tornam o quadro clínico muito mais aparatoso.
Como se faz o diagnóstico
Na maioria dos casos não existem grandes dúvidas de que estamos na presença de uma criança ou jovem intolerante à lactose. Por exemplo, se a criança acaba de ter uma gastroenterite e a mãe nos diz que continua com diarreia, cólicas, muitos gases e o rabinho muito assado, principalmente quando ingere produtos lácteos.
Mas noutras situações pode não ser tão evidente, principalmente quando a deficiência de lactase é diminuta e os sintomas mais frustes. É nestes casos que o pediatra pode necessitar de pedir alguns testes de forma a tirar todas as dúvidas. O teste mais utilizado é um teste que mede a capacidade do intestino absorver a lactose e pode ser realizado em qualquer idade. Após a realização deste teste não ficam geralmente dúvidas sobre a capacidade daquela criança em particular ser capaz (ou não) de digerir o açúcar do leite.
Como se trata
A intolerância à lactose não se trata. Mas os seus sintomas podem prevenir-se e atenuar-se.
A primeira medida é obviamente diminuir o consumo de lactose. Isto consegue-se diminuindo o consumo de leite e gelados de leite. O queijo e os iogurtes contém habitualmente quantidades de lactose muito mais pequenas e podem ser mantidos na alimentação da criança. Se necessário, existem mesmo leites sem lactose, que podem ser um substituto temporário do leite habitual da criança. Mais importante, a criança pode ir ajustando a quantidade de lactose que ingere, de acordo com os seus sintomas.
Nos casos mais complicados existem medicamentos contendo a enzima lactase e que podem ser tomados em conjunto com as refeições. Dessa forma a criança pode ingerir alimentos contendo lactose se, ao mesmo tempo, tomar os medicamentos contendo a enzima que vai ser responsável pela digestão desse açúcar.
Em conclusão
A intolerância à lactose é um problema comum mas não é necessariamente um grande problema. Pode ser constitucional, de cada criança ou adulto, ou surgir em situações especiais como após uma gastroenterite. Quando necessário, existem testes especiais para fazer o diagnóstico dessa situação e o seu tratamento baseia-se em medidas simples de evicção de lactose ou ingestão de medicamentos contendo a enzima em falta: a lactase.
Em caso de dúvidas fale com o seu pediatra.