Síndrome de X Frágil
Escrito por Miguel Palha, pediatra do Desenvolvimento Domingo, 12 Março 2017 | Visto - 11708
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O Carlos falou muito tarde, já depois dos cinco anos. E nunca gostou muito de brincar com as outras crianças.
O Carlos, em bebé, era muito irritável. Ao mínimo desconforto, ou mesmo sem causa aparente, desatava a chorar, de uma forma intensa e por tempo indeterminado. O Carlos falou muito tarde, já depois dos cinco anos. E nunca gostou muito de brincar com as outras crianças. Quando alguém falava com ele, desviava o olhar. E quando se excitava com alguma coisa, fazia um movimento repetitivo com os braços, como se quisesse levantar voo. E mordia os dedos das mãos, a ponto de fazer calos.
Estava sempre a mexer-se e o tempo de atenção era muito curto. Quando entrou para a escola, não conseguiu aprender a ler, apesar dos esforços da professora, que, dizem, era muito dedicada. As suas feições eram peculiares: as orelhas muito grandes; o queixo grande; e a face longa. Havia um primo da mãe, hoje homem feito, com algumas semelhanças físicas com ele. Foi observado, em Coruche, por um pediatra do desenvolvimento que levantou a suspeita de se tratar de um défice cognitivo (ou seja, de um atraso mental), num quadro de uma síndrome do X Frágil.
A doença veio a confirmar-se e o Carlos foi submetido a uma intervenção especializada destinada a minimizar o défice intelectual e a eliminar ou a reduzir as alterações comportamentais. Hoje, o Carlos tem 10 anos, está no terceiro ano e já lê quase tudo, embora de forma silabada. E, no recreio, já começou a aproximar-se de dois colegas…
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