Síndrome de Heller
Escrito por Miguel Palha, pediatra do Desenvolvimento Segunda, 27 Fevereiro 2017 | Visto - 17189
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Aos quatro anos Mafalda deixou de falar e de olhar as pessoas, não conseguia alimentar-se sozinha... Por Miguel Palha.
A Mafalda, aos dois anos de idade, era linda de morrer. Andou pelos treze meses de idade e disse as primeiras palavras pouco antes de completar o primeiro ano de vida. Com ano e meio de idade, sentia curiosidade pelas outras crianças. E, aos 26 meses, já comia sozinha com a colher e não usava fraldas, nem de dia, nem de noite.
Em suma, teve sempre um bom desenvolvimento. Mas, pelos quatro anos de idade, estava a família de férias no Algarve, a mãe começou a notar uns comportamentos muito estranhos, diferentes do habitual: deixou de falar e de olhar para as pessoas; não conseguia alimentar-se sozinha; perdeu a capacidade de correr; voltou a usar fraldas; isolou-se das pessoas, mesmo da mãe; e começou a fazer uns gestos muito estranhos com os braços, como se estivesse a esvoaçar.
Apavorados, os pais consultaram um pediatra do desenvolvimento em Portimão e o diagnóstico não podia ser pior: síndrome de Heller, ou seja uma regressão autística do desenvolvimento, também conhecida como perturbação desintegrativa da segunda infância (forma relativamente rara e grave das perturbações do espectro do autismo).
Foi desenhado, de imediato, um programa de intervenção muito complexo, para executar em casa e na instituição educativa. Tem vindo a melhorar, embora lentamente. Cada vez que é notada uma nova aquisição, os pais têm uma explosão de alegria. A Mafalda continua linda de morrer.
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