Perturbação não verbal

Devido às dificuldades na coordenação motora, Vítor raramente era escolhido para jogar. Por Miguel Palha.




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Devido às dificuldades na coordenação motora, Vítor raramente era escolhido para jogar. Quando muito, ficava a guarda-redes. Falava com termos que os outros meninos não conheciam.


Vítor foi sempre um pouco tímido e seletivo nas amizades. Devido às dificuldades na coordenação motora, raramente era escolhido para jogar à bola. Quando muito, ficava a guarda-redes. Falava muito bem, empregando termos caros, que os outros meninos não conheciam. Mas a maneira de falar era bem esquisita, com uma entoação estranha. E falava de coisas que não interessavam aos colegas. Sobre coisas parvas, dizia a canalha.

Aprendeu a ler aos cinco anos, em casa, pensa-se que sem a ajuda de ninguém. Quando da entrada para a escola, tinha dificuldades em se orientar na rua e em saber onde estava a esquerda e a direita. Noções de tempo não eram com ele. No fim do primeiro ano, lia como ninguém, mas a caligrafia, a ortografia e o cálculo eram uma verdadeira calamidade.

O pediatra do desenvolvimento que observou o Vítor, lá em Aveiro, fez um diagnóstico pouco conhecido do público, mesmo do melhor informado: tratava-se de uma perturbação cognitiva não-verbal. Foi elaborado um guião de intervenção, essencialmente dirigido aos problemas académicos.

Os resultados foram excelentes, com melhorias significativas em todas as áreas deficitárias. Continua um pouco trapalhão, mas como não pretende ser bailarino, a coisa não tem grande importância. A letra, essa, é de médico. As conversas, por vezes, são um pouco desajustadas. O pai, homem culto e com um assinalável sentido de humor, diz que o Vítor, por via das conversas descontextualizadas e sem grande nexo, é o mais jovem surrealista português…

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