A escola de todos
Escrito por Miguel Palha Quinta, 03 Julho 2014 | Visto - 9249
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O lugar da Sofia, tal como o de todas as crianças, com ou sem deficiência, é na escola regular.
O lugar da Sofia, tal como o de todas as crianças, com ou sem deficiência, é na escola regular. A inclusão é um imperativo ético.
Quando a Sofia nasceu, os pediatras não tiveram dúvidas: a bebé tinha trissomia 21. Os pais ficaram deprimidos. Aos dois meses de idade, a Sofia foi observada, no Porto, por um pediatra do desenvolvimento, que desenhou um programa de intervenção muito ambicioso e complexo, mas também, a acreditar na opinião de muitos técnicos, impossível de ser executado. O pediatra propôs, imaginem, que se desse início ao treino dos pré-requisitos da leitura pelos seis meses de idade (metodologia de uma grande utilidade para o desenvolvimento futuro das capacidades de leitura nas crianças com deficiência cognitiva e, por consequência, do desenvolvimento da própria linguagem). Com a ajuda de uma técnica especializada, e com a determinação férrea dos pais, lá se conseguiu executar uma boa parte dos programas estruturados constantes no guião de intervenção proposto pelo pediatra. Hoje, a Sofia tem seis anos e vai entrar para o primeiro ano, numa escola regular. Os pais foram avisados, por um sem número de técnicos, de que a melhor opção seria uma escola para crianças deficientes. Mas o pediatra de desenvolvimento, novamente consultado, foi peremptório e até um pouco inflexível no seu aconselhamento: o lugar da Sofia, tal como o de todas as crianças, com ou sem deficiência, tem de ser numa escola regular. É que a inclusão, disse ainda o médico, é um imperativo ético e, portanto, independente das aquisições académicas que se venham a registar. Os pais estão muito receosos da reação dos professores e dos colegas. A Sofia tem, sem dúvida, um défice intelectual. Mas, curiosamente, de acordo com as informações disponíveis, é a única aluna daquela turma de primeiro ano que já sabe ler.