Vida nova

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Os primeiros três meses a seguir ao nascimento do bebé são intensos e exigentes. Esqueça a vida como era antes. Prepare-se para uma revolução!


Depois do parto, o bebé chega, finalmente, aos braços da mãe. Mas lá por ter saído da barriga, não quer dizer que já esteja pronto para a vida do lado de cá. Depois de nove meses sempre quentinho e confortável, com comida à descrição, num ambiente com barulho e luzes controladas, o bebé vai precisar de algum tempo para se adaptar a esta nova fase. E a mãe também. Ter a responsabilidade de cuidar de uma pessoa minúscula, que chora a toda a hora, sem explicar porquê, não é fácil. Ainda mais quando as hormonas estão instáveis, o corpo está dorido e o coração ainda não sabe bem o que sente. É preciso tempo para encontrar a serenidade desejada. Para mãe e filho se conhecerem e se adaptarem a este novo mundo são precisos, pelo menos, três meses, aos quais se costuma chamar o quarto trimestre da gravidez.
Sentimentos novos

A alta da maternidade acontece cerca de 48 horas após um parto normal e três a quatro dias depois de uma cesariana. Para a mãe ir para casa têm de estar cumpridos alguns critérios: “Não pode ter febre, o útero tem de estar bem involuído, as mamas têm de estar adaptadas à amamentação, o trânsito intestinal deve estar restabelecido, os trajetos venosos sem sinais de alteração e a mulher tem de estar orientada em relação às necessidades do recém-nascido”, explica a obstetra Maria Augusta Rebordão.

É importante garantir que fisicamente tudo está em ordem, porque quando chegar a casa a nova mãe tem uma nova vida pela frente. Se na maternidade tinha alguma ajuda, em casa a mãe vai fazer tudo sozinha pela primeira vez e é natural que surjam sentimentos contraditórios: “Para além da alegria e da felicidade esperada com o nascimento de um filho, quase todas as mulheres sentem (em maior ou menor grau) alguma ansiedade, medo e insegurança”, alerta a psicóloga Cláudia Madeira Pereira. Por muito que o bebé tenha sido desejado e mesmo que tenha lido todos os livros de puericultura, há muita novidade e responsabilidade para assimilar. “É normal existirem dúvidas sobre a capacidade de exercer a maternidade, se vai ser boa mãe, se será capaz de cuidar do seu bebé, se vai conseguir coordenar o papel de mãe com o de esposa/companheira, se vai ter apoio do marido/companheiro, se vai conseguir perder peso, se vão surgir dificuldades ao nível da sexualidade…”, exemplifica a psicóloga, explicando que “todos estes sentimentos são normais”. Mas se forem demasiado intensos ou persistirem por mais de duas semanas devem ser motivo de preocupação, pois podem originar uma depressão pós-parto. Neste caso, “recomenda-se a procura de ajuda psicológica”.

Um corpo novo

Ao contrário do que muitas celebridades fazem parecer, depois de uma gravidez, o corpo não volta ao que era rapidamente. Há quem diga que se a barriga demorou nove meses a crescer é normal que demore, pelo menos, outros nove a recuperar o antigo tamanho.

Para se sentir bem consigo e com o novo corpo é preciso tomar alguns cuidados: “A mãe deve fazer tudo para ter uma alimentação saudável, por si e para proporcionar um leite de ‘qualidade’ ao seu filho. Tem que se cuidar e não se fechar em casa de pijama e chinelos, o primeiro passo para o desleixo e consequente diminuição da autoestima. Tem que falar com outras pessoas, nunca deixando de conviver”, recomenda Maria Augusta Rebordão. O regresso ao exercício físico, incluindo abdominais, pode ser iniciado “um mês após uma cesariana e algum tempo antes em caso de parto normal”.

O útero demora cerca de seis semanas a involuir e a regenerar a sua camada interna. Durante este período, ao qual se chama puerpério, o útero vai eliminando pela vagina os lóquios, que contêm sangue, restos de decídua [camada onde a placenta estava fixada] e bactérias. Os lóquios passam por três fases, como explica Maria Augusta Rebordão: “Lóquios hemáticos, em que predomina o sangue no seu conteúdo (duram três a quatro dias); lóquios sero-hemáticos, em que o conteúdo é mais seroso e menos hemático (duram entre o quinto e o décimo dia); lóquios serosos, composto por células brancas e muco, começando a quantidade de fluídos a diminuir (a partir do décimo dia)”. Febre ou mau cheiro nos lóquios pode ser um sinal de alerta para infeção ou retenção de restos placentares. Se for o caso, contacte o seu médico.
A subida de leite surge habitualmente entre o segundo e o terceiro dia após o parto e pode gerar algum desconforto. As mamas tornam-se duras e muito quentes, pode até surgir alguma febre, que geralmente não se prolonga por mais de 24 horas. Dar de mamar o mais possível é a melhor solução. O alívio é imediato. Além disso, pode alternar entre o frio e o quente, molhando toalhas e colocando-as sobre o peito. Tomar um duche de chuveiro e “pentear” as mamas com o dedo também ajuda. O velho truque de colocar folhas de couve lombardo dentro do sutiã também costuma aliviar.
Para confirmar que a recuperação do parto está a evoluir dentro da normalidade é essencial ir à consulta de revisão do puerpério que deve ser efetuada entre as quatro e as seis semanas após o parto.

Um bebé novo
Um recém-nascido é exigente por natureza. Esteve nove meses na barriga da mãe, sem que lhe faltasse nada e agora tudo é novo, desde o ar que respira, ao toque da roupa, à comida que não está sempre ao dispor. É normal que chore muito. E o único remédio que o pode acalmar é o colo da mãe, a mama da mãe, porque é na mãe que estão os cheiros e os sons que o bebé traz na memória. Por isso, o bebé só quer colo. É o sítio mais parecido com o útero! Muitas recém-mães esperam que o bebé só coma e durma, mas tal raramente é verdade. Os recém-nascidos fazem muito mais do que comer e dormir.
No meio de tantas emoções e tarefas novas, pode ser difícil perceber o que se sente pelo filho acabado de nascer. “É comum pensar-se que as mulheres sentem um amor imediato pelos seus bebés após o nascimento, mas isto não corresponde à realidade”, alerta Cláudia Madeira Pereira.

“É importante desmistificar essa ideia, porque ela corresponde a uma expectativa que muitas mulheres têm e que, quando não é correspondida, acaba por desencadear fortes sentimentos de culpa e frustração nas recém-mamãs”, continua. O amor por um filho não acontece por magia à primeira vista, é normal que a mulher precise de algum tempo até conseguir estabelecer essa vinculação, como explica a psicóloga: “Algumas mães podem precisar de semanas, outras de meses. O importante é que a relação de vinculação se vá estabelecendo e desenvolvendo de forma natural e progressiva ao longo do primeiro ano”.
Por tudo isto, os primeiros três meses depois do parto podem ser difíceis e cansativos. O truque é entregar-se ao bebé, pensar que a gravidez continua, mas agora do lado de fora. Viva esta fase como se o tempo estivesse parado, sem pressas. Peça ajuda sempre que precisar e descanse sempre que puder. Lembre-se que passa num instante. Aproveite bem!


Nova vida do casal
Dias sem rotinas, noites mal dormidas... Não há tempo para sentar e conversar, muito menos para momentos íntimos. É normal que nos primeiros tempos, o sexo seja algo em que ninguém quer pensar. Do lado das mulheres, explica Maria Augusta Rebordão, “há habitualmente uma diminuição da líbido, quer pelas noites mal dormidas, mas sobretudo pelo ambiente hormonal, que lhes confere uma secura vaginal”. Nesta situação, a obstetra recomenda a utilização de lubrificantes aquosos. Mas a falta de desejo nesta fase não é apenas característica da mulher. Maria Augusta Rebordão lembra com um sorriso o desabafo de um pai de gémeos quando o tema “sexo” surgiu na consulta de revisão pós-
-parto: “Sexo, doutora, o que é isso? E tempo? Tenha calma!”
Os homens, acrescenta Cláudia Madeira Pereira, “podem experienciar sentimentos muito diferentes nesta fase. Alguns sentem-se ativos, felizes e realizados, enquanto outros sentem-se como se estivessem em segundo plano, como se fossem excluídos e/ou rejeitados”. Por isso, a psicóloga recomenda: “É importante o diálogo, a compreensão e a ajuda mútua no seio do casal, para que a relação conjugal saia fortalecida destas situações”.


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