40 dias depois do parto!
Escrito por Patrícia Lamúrias Terça, 14 Outubro 2014 | Visto - 38523
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40 dias depois do parto! |
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Os primeiros 40 dias depois do parto são uma autêntica revolução. Não se consegue pensar em mais nada para além do bebé. Passada esta fase, é tempo de tentar recuperar alguma tranquilidade.
As seis semanas depois do parto marcam o fim do pós-parto. Passaram cerca de 40 dias desde que o bebé nasceu. Em muitas culturas, neste período de quarentena, mãe e bebé ficam resguardados do resto do mundo a fim de se conhecerem e se adaptarem um ao outro, enquanto as outras mulheres da comunidade tratam das tarefas, como a comida ou a roupa. Por cá não é assim. E a mãe chega ao final desta fase exausta. Foi um período intenso, esgotante, cheio de mudanças e adaptações, em que o bebé esteve sempre no centro das atenções. A partir de agora… o bebé continua a ser o centro das atenções, mas já apetece começar a recuperar alguma da vida pré-parto. Não será fácil. Neste momento, o bebé ainda quase só precisa da mãe. Mas a mãe precisa de mais. Não estamos a dizer para se separar do bebé. Nada disso. Mas, a partir de agora, é importante arranjar tempo para respirar fundo, voltar a olhar para o mundo e fazer outras coisas que não sejam mudar fraldas. É o início de mais uma nova etapa. Com novos objetivos, novos obstáculos e novas recompensas.
Objetivos
Se ainda não o fez, está na hora de começar a preocupar-se mais consigo. Há, pelo menos, quatro objetivos que devem merecer especial atenção.
Recuperar a forma
Para voltar mais rapidamente à forma pré-gravidez convém: primeiro, não ter engordado muito durante os nove meses. O normal é ganhar entre 11 e 16 kg, dependendo do peso habitual. Segundo, não comer demais durante o pós-parto. Muitas mulheres conseguem controlar-se na gravidez e descarrilam depois de o bebé nascer, devido ao stresse, à falta de tempo para comer bem, à solidão, que tantas vezes se sente, ao passar o dia sozinha com um recém-nascido. Claro que o pós-parto, principalmente se estiver a dar de mamar, não é a altura ideal para dietas exigentes, pois todas as forças são necessárias para cuidar de um bebé. Manter uma alimentação saudável, evitando excessos calóricos, e beber muita água, para eliminar os líquidos acumulados, devem ser as principais preocupações.
Dar de mamar também ajuda a recuperar a forma, porque o corpo perde muita energia para produzir o leite, são gastas cerca de 700 calorias para produzir um litro de leite. Em comparação, numa caminhada de uma hora gastam-se cerca de 300 calorias. Mas, andar a pé tem outros benefícios para além de ajudar a perder peso. E nesta fase é também muito importante começar alguma atividade física. Não só para perder os quilos extra que ainda lhe sobram da gravidez, mas também porque o exercício físico é uma ótima terapia para o corpo e para a mente, contribuindo para a produção de endorfinas, que aumentam a boa disposição e a energia, que tanta falta fazem agora. A forma mais fácil de se exercitar é precisamente fazendo caminhadas com o bebé no carrinho, no pano ou no sling. É bom para os dois. Para a mãe que trabalha os músculos e apanha ar; para o bebé que adora passear e ver coisas novas. Se o passeio for à beira-rio ou num jardim é mais agradável, mas, se for muito complicado deslocar-se para um destes locais, basta sair de casa e andar pelas ruas do bairro. O importante é mexer-se e andar ao ar livre.
Existem ainda vários programas de recuperação pós-parto e vários tipos de massagens específicas em ginásios e centros que prometem ajudar a recuperar a forma, mas que podem não ser acessíveis a todas as mulheres. Em último caso, não sendo grande consolo, pense que se esteve nove meses a ganhar peso, é normal que demore outros tantos a perdê-lo.
Combater a solidão
A licença de parto pode ser um período muito solitário. Passar um dia inteiro sem falar com outro adulto; a ouvir a própria voz, mas num tom mais fininho; muitas vezes sem conseguir tomar banho, ir à casa de banho ou comer em condições; sem ninguém a quem recorrer quando surgem novas dúvidas a cada hora; a ouvir o choro do bebé sem conseguir acalmá-lo… Muitas vezes só apetece chorar com ele.
Um bebé exige exclusividade absoluta 24 horas por dia. Qualquer pessoa fica exausta. Há até quem pense em voltar ao trabalho mais cedo só para conseguir ter cinco minutos de sossego. Mas o cansaço, que é físico e psicológico, sente-se mais porque se está cem por cento focada no bebé, sem mais ninguém à volta. Não é suposto uma mãe passar tanto tempo sozinha com o seu filho recém-nascido. Às vezes, basta aparecer uma amiga em casa para conversar e até o bebé parece que fica mais relaxado e sossegado. E isto acontece porque a descontração da mãe reflete-se no filho. Mas a verdade é que é difícil arranjar companhia durante a licença de parto.
Os cursos de recuperação pós-parto podem ser uma boa ajuda neste caso, pois servem também de encontro entre mães, para partilhar alegrias, dúvidas e angústias. Quem melhor do que mulheres que estão exatamente a passar pelo mesmo para ouvirem e compreenderem o que vai no coração de uma recém-mãe. Os programas para bebés – concertos, massagem, yoga – são também uma boa forma de encontrar outras mães e de passar um tempo diferente e mais descontraído. Há ainda na internet vários fóruns e grupos de mães que fazem companhia à distância e que muitas vezes marcam encontros ao vivo. Vale tudo menos isolar-se.
Recomeçar a namorar
O regresso à vida sexual varia muito de mulher para mulher e depende muito de como foi o parto. Muitas mulheres preferem esperar pela consulta de revisão pós-parto para garantir que está tudo em ordem e, só depois, voltar aos treinos. Outras mulheres começam antes desta data e sentem-se bem.
Antes de reiniciar a vida sexual é importante pensar na contraceção. Enquanto estiver a dar de mamar tem duas opções: preservativo ou minipílula, que pode ser iniciada 15 dias após o nascimento do bebé e é tomada sem pausas. Por ser uma pílula “leve” só deve ser utilizada enquanto estiver a dar de mamar com regularidade, uma vez que a amamentação também tem algum efeito protetor sobre uma nova gravidez. Quando interromper a amamentação, deverá então optar pelo método contracetivo que mais lhe convier.
Não há uma altura certa para voltar a ter relações sexuais depois de um parto. Se houve episiotomia ou laceração, com muitos pontos, é normal que a recuperação seja mais longa e a vontade de namorar nenhuma. Nesse caso, será preciso muita paciência por parte da mulher e do homem para recuperar a intimidade. Mesmo nos casos em que o períneo não foi massacrado, a seguir ao parto, os níveis hormonais da mulher estão longe de serem os ideais para a prática sexual.
O aumento da prolactina – a hormona que tem como função estimular a produção do leite – e a redução do estrogénio – hormona que aumenta quando há ovulação, o que não está a acontecer agora – contribuem para uma lubrificação vaginal diminuída, que pode dificultar as relações sexuais. Este ambiente hormonal deverá manter-se até à regularização do ciclo menstrual. A menstruação poderá reaparecer cerca de quatro a oito semanas depois de interromper a amamentação. Nas mães que não amamentam, a menstruação deverá reaparecer até às primeiras 12 semanas pós-parto. Até lá, usar um gel vaginal lubrificante pode ajudar.
O cansaço, a falta de tempo e de oportunidade são os principais obstáculos ao namoro. De início, dificilmente haverá espontaneidade e terá de ser com algum esforço que mãe e pai se lembram que também são marido e mulher. Mas, devagar, com calma e dedicação, tudo há de voltar ao que era.
Fazer a consulta de revisão pós parto
Por voltas das seis semanas depois do nascimento do bebé, deverá fazer uma consulta de revisão pós-parto. Esta consulta é muito importante para garantir que depois de tantas alterações no corpo com a gravidez e o parto tudo está a voltar à normalidade. O médico irá avaliar o seu peso, a sua tensão arterial e fará um exame pélvico para verificar se o útero já diminuiu ao tamanho pré-gravidez. Se não tiver feito nenhuma citologia para rastreio do cancro do colo do útero nos últimos dois anos, deverá fazê-la agora.
O médico deverá ainda perguntar sobre o funcionamento dos intestinos e da bexiga, alterações mamárias, dores e sobre as rotinas do bebé, para perceber o estado anímico da mãe. Será ainda abordado o tema do regresso à vida sexual e da contraceção. Aproveite para se queixar de tudo o que sente, desde desconfortos físicos a emocionais. E para colocar todas as dúvidas sobre as alterações que ainda sente no corpo.