Parto: sem máquinas nem agulhas!

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A crescente medicalização do parto quase fez esquecer que a mulher consegue dar à luz sem máquinas ou agulhas. Para ter um parto natural só é preciso respeitar o tempo e o ritmo da natureza. O resultado é uma experiência muito mais saudável, compensadora e feliz.


O que é um parto natural?
Num parto natural não há intervenções médicas. Ou seja, a mãe não está ligada ao soro, não há administração de ocitocina artificial, a auscultação do bebé é feita de forma intermitente ou o CTG utilizado não tem fios (para que a mãe se possa movimentar à vontade), não se fazem toques vaginais desnecessários, não há pessoas a mais na sala, não há epidural, não se faz episiotomia, não são utilizados fórceps ou ventosas, nem qualquer outro tipo de manobra por parte do profissional de saúde que está a acompanhar o parto. O bebé nasce de forma natural, sem interferências exteriores, ao seu ritmo. No parto natural é a mulher que guia o parto conforme o seu corpo vai indicando, sem pressas, respeitando o tempo e o ritmo próprio do nascimento. Os profissionais de saúde só têm de garantir que a mulher está confortável, que todos os parâmetros estão dentro da normalidade e intervir apenas quando for mesmo necessário. Nenhum parto natural tem de o ser até ao fim, obviamente. Em caso de risco, as intervenções são bem-vindas.


O parto natural é melhor?
A Organização Mundial de Saúde, os mais recentes estudos científicos e vários especialistas em obstetrícia têm vindo a demonstrar os benefícios do parto sem interferências exteriores, assim como os riscos de vários procedimentos clínicos que são feitos por rotina durante o trabalho de parto e que podem ter influência na recuperação da mãe e no desenvolvimento do bebé. Muitas vezes, o objetivo das intervenções médicas é apenas acelerar o parto. Por exemplo, a ocitocina artificial serve para acelerar as contrações (mas também as torna mais dolorosas); a episiotomia serve para encurtar a fase da expulsão (mas torna a recuperação pós-parto muito mais difícil). Por outro lado, a epidural faz com
que a mulher deixe de saber quando fazer força, por isso, cansa-se mais depressa e é necessário utilizar fórceps ou ventosas ou mesmo ir para cesariana. Do lado emocional, o parto natural é uma experiência poderosa, avassaladora, transformadora. A mulher sente que foi a protagonista do momento mais importante da sua vida e ganha uma confiança extra para cuidar do seu bebé.

É preciso ter velas e música no parto natural?
O ambiente é o fator principal num parto natural, pois influencia diretamente a ocitocina e a adrenalina, que são duas hormonas muito importantes no decorrer do trabalho de parto. A ocitocina, chamada hormona do amor, ajuda o corpo a relaxar, a abrir-se, mas só funciona se a mulher se sentir completamente segura. A adrenalina, pelo contrário, faz o corpo contrair e põe o cérebro em alerta, surge em situações de risco ou perigo, em que a mulher (e os homens também) precisem de fugir ou reagir. Se a mulher se sentir insegura vai produzir adrenalina, que fará com que o corpo trave o trabalho de parto, pois nessas situações é importante que o bebé fique na barriga onde está mais protegido. Ter pouca luz, silêncio ou música agradável e poucas pessoas ou apenas pessoas conhecidas na sala de parto são fatores que contribuem para que a mulher se sinta segura e, por isso, produza ocitocina, que vai ajudar o corpo a relaxar e a fazer o seu trabalho.
Como se lida com a dor no parto natural?
Se a mulher estiver profundamente relaxada e entregue à tarefa de fazer nascer o seu bebé, será muito mais fácil lidar com as contrações. Se a mulher, em vez de estar deitada, puder mexer-se à sua vontade, consegue posicionar-se instintivamente de forma a suportar melhor as contrações. Se a mulher não estiver inibida e sentir que pode gritar ou respirar da forma que mais lhe convém, as contrações serão menos dolorosas. A dor das contrações serve para indicar ao corpo o que deve fazer. Ao procurar uma posição mais confortável a mulher está a favorecer a descida do bebé pelo canal de parto. Por isso, ter liberdade de movimentos é uma das melhores formas de lidar com a dor.

Que outros métodos posso utilizar para aliviar a dor?

Sentar na bola de Pilates alivia bastante o desconforto na zona pélvica, pois funciona como uma massagem em toda aquela área e ajuda a relaxar os músculos. Pedir ao acompanhante de parto que faça massagens na zona lombar ou mesmo nos ombros também ajuda. Qualquer toque afetuoso contribui para libertar ocitocina, o que torna as contrações mais eficientes e menos dolorosas. Dançar. Sim, dançar! De forma suave, claro. A posição vertical tem a vantagem de ter a gravidade a seu favor e o movimento circular das ancas ajuda o bebé a descer. É como se fosse uma rosca a desenroscar. Mas a forma mais eficaz de aliviar a dor de forma natural é através da utilização da água. Um duche já é bom, mas a imersão em água quente tem um efeito ainda mais significativo na diminuição da dor. A água alivia a pressão sobre o corpo, promove o relaxamento muscular e acalma a ansiedade. É o melhor método natural de alívio da dor de parto.

Para ter um parto natural é obrigatório ter uma doula?
Não é obrigatório, mas ajuda muito. A doula deve conhecer os desejos da grávida, dar-lhe informações sobre a gravidez e o parto, ajudá-la na preparação para o parto, apoiá-la nas suas decisões e defender os seus interesses. É um acompanhamento emocional que deve começar na gravidez e continuar durante o pós-parto. No parto, a doula dá apoio contínuo à mulher, aumentando a sua confiança. Pode passar por dizer as palavras certas, dar a mão, proporcionar um ambiente seguro e confortável ou garantir que os seus desejos são atendidos.

Todas as mulheres podem ter um parto natural?

Em princípio, todas as grávidas de baixo risco podem ter um parto natural. O corpo da mulher foi concebido para parir sem intervenções. Podem existir algumas contraindicações no caso de gémeos, bebé pélvico ou algumas doenças da mãe. Mas terá de ser analisado caso a caso com o profissional de saúde.


Onde posso ter um parto natural?
Por incrível que pareça, hoje em dia é difícil ter um parto natural. Nos hospitais portugueses (públicos e privados) a regra ainda é a medicalização do parto. Ou seja, a mulher tem de estar ligada ao soro e ao CTG, coloca-se ocitocina artificial no soro, obriga-se a mulher a estar deitada, entram e saem pessoas da sala de parto constantemente, as luzes estão todas ligadas, há barulhos de máquinas, fazem-se toques vaginais demais e sem consentimento, muitas vezes é feita episiotomia por rotina… Todos estes procedimentos impendem a produção de ocitocina, dificultando a concentração e relaxamento da mulher, condições essenciais para um parto suave. Alguns hospitais já vão tendo alguma abertura para o parto natural, mas, muitas vezes, depende da equipa de serviço. O melhor é dirigir-se à instituição onde pretende ter o bebé e perguntar quais são os procedimentos habituais.


Como me preparo para um parto natural?
Informação, informação, informação. Não esperar “que logo se vê” ou que “os médicos sabem o que fazem, por isso não preciso de me preocupar”. É muito importante saber como funciona o corpo durante o trabalho de parto, o percurso da descida do bebé, o funcionamento das hormonas, o significado das contrações, formas de aliviar a dor…. Quanto mais conhecimento, mais confiança. Depois de saber tudo sobre o parto, reflita sobre o parto que gostaria de ter, como imagina o momento, como gostava de se sentir, quem gostava que estivesse presente, como gostava que fosse o ambiente. Faça um plano de parto. Procure um médico ou uma maternidade que lhe garanta que vai tentar respeitar as suas preferências. Em Portugal, não é muito fácil encontrar profissionais de saúde que aceitem o parto natural. Mas existem e vale a pena procurá-los. Se a mulher tiver uma boa experiência de parto, se tiver um pós-parto sem dores, se sentir que foi capaz de parir o seu filho da forma que queria, vai estar mais feliz, mais confiante, mais apta a cuidar do seu bebé, a amamentação vai correr melhor. Será um princípio de vida mais auspicioso para a mãe, para o bebé, para a família.


O que é que o pai pode fazer num parto natural?

O pai não precisa de fazer muita coisa. O mais importante é que a mulher sinta a sua presença segura, que sinta que o homem está ali ao lado dela em sintonia, entregue também àquele momento, confiando que a sua mulher sabe trazer o seu filho ao mundo. Se for do agrado do casal, o pai pode fazer massagens (que funcionam melhor se tiverem sido treinadas durante a gravidez), pode ser o seu par de dança durante o trabalho de parto, pode segurá-la em várias posições, mas não deve ter uma preocupação constante para fazer qualquer coisa, pois isso só irá transmitir ansiedade. O melhor é estar quieto, ao lado, fazendo sentir a sua presença. E isto vale para qualquer tipo de parto.


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