Pais & Mães
Pais para sempre
Quinta, 23 Maio 2013 | Visto - 17091
Quando o divórcio se transforma numa guerra irracional, há pais (e mães) impedidos de ver os filhos.
É uma guerra onde só vítimas e derrotados, onde se subtraem direitos de forma egoísta e se mutilam relações e sentimentos à força. A alienação parental é uma agressão perversa, que devasta pais (e mães) e, acima de tudo, filhos. Porque entre pais e filhos não pode haver divórcio.
Quando o divórcio se transforma numa guerra irracional, há pais (e mães) impedidos de ver os filhos. Impedidos de os amar, de brincar com eles, de os educar, de os ver crescer felizes. No drama da alienação parental, há pais (e mães) destroçados, que lutam anos a fio para poderem estar com os filhos. Outros resignam-se ou desistem pelo caminho… Mas as maiores vítimas desta guerra são os filhos, amputados de um amor que é seu por direito e obrigados a viver com a culpa de amarem o pai e a mãe, num sentimento bipolar com sabor amargo a traição.
“Aquele pai só queria poder ver os filhos, por momentos, por breves momentos que fosse, segundos, segundos de esperança, segundos que queria poder acreditar que iam acontecer…”, escreveu a educadora, relatando a visita de Pedro ao colégio em busca da sua filha, Lua. Já em desespero, depois de várias tentativas para estar com os filhos nos dias que se seguiram ao pedido de divórcio, Pedro percebeu que estava a viver aquilo que nunca pensou ser possível. A mulher com que partilhou dez anos de ”relacionamento, afetividade, partilha, amor, atritos, alegrias, tristezas” estava decidida a afastá-lo dos filhos. A qualquer preço. Desde esse momento, Pedro passou dias sem ter notícias dos filhos, sem saber do paradeiro deles, sem saber com quem estavam e se estavam bem.
“Quando nos casamos e decidimos ter filhos nunca pensamos que é um projeto para uns dias, sonhamos sempre com a felicidade eterna junto da pessoa que amamos. O mais duro de aceitar foi perceber que o fim da minha relação com a mulher que eu amava pressupunha deixar de ser pai e divorciar-me dos meus filhos forçadamente”, conta Pedro, salientando que “nunca entendi e continuo sem entender por que razão os filhos têm de ser propriedade de alguém… ou melhor, porque é que há alguém que considera os filhos sua propriedade ou possíveis ‘armas’…”
Pedro passou três anos em processo de divórcio litigioso, com “acusações falsas e difamatórias”, numa luta constante para poder ver os filhos, muitas vezes limitando-se a estar com eles “num vão de escada”. Foi uma batalha demasiado dura, mas não o suficiente para o fazer desistir.
“Não queria que os meus filhos fossem órfãos de um pai vivo e sempre lutei com muita assertividade, dando um passo de cada vez para que os meus filhos sempre tivessem um pai. A nossa única arma para sobreviver a esta batalha é o amor”, assegura Pedro, assumindo que “muitas vezes pensei desistir, mas a vontade de ser pai deu-me oxigénio suficiente para não deixar de respirar”.
Mudar consciências e atitudes
A história de Pedro é relatada no livro “Pai, vem me ver…”, escrito por Nuno Vilaranda e Patrícia Mendes, onde se cruzam duas narrativas reais, duas vidas, duas vítimas de alienação parental: Pedro e Ana, uma filha, agora adulta, que conta a sua história através de cartas.
“Todos os dias oiço histórias reais de relatos de mães, pais, filhos ou avós a viverem o drama da alienação familiar, da desigualdade parental, por isso entendi que seria importante dar a conhecer uma narrativa real baseada no diário de um pai e nas cartas de uma filha, que outrora viveram este drama”, explica Nuno Vilaranda, revelando que o seu objetivo é que o livro “seja uma rampa de lançamento para o debate em torno do tema da igualdade/desigualdade parental e que faça refletir pais, mães e os profissionais que lidam com este fenómeno para uma mudança de consciências e atitudes, em prol dos reais direitos dos filhos”. Além disso, sublinha, “mostrar que as falsas acusações de violência doméstica e de abusos sexuais também começam a ser uma realidade e servem como arma de arremesso para atingir progenitores e alimentar a desigualdade e ludibriar tribunais e instituições”.
Estas foram exatamente algumas das acusações feitas a Pedro em tribunal, no decorrer do divórcio litigioso, e que este pai prefere “nem comentar”, por serem “completamente infundadas e surreais”. São acusações “completamente desumanas…”. Apesar de terem sido meses “tão difíceis”, o que mais custou a Pedro foi “não poder ser pai a tempo inteiro, não poder ter privacidade com os meus filhos, não poder estar com eles no Natal de 2010, ter que conviver com eles no vão de escadas… são momentos angustiantes”.
Momentos que ficam gravados também na mente e no coração dos filhos: “eles recordam-se perfeitamente do vão de escadas…ainda há pouco tempo me surpreenderam quando começaram a falar disso”.
Na verdade, desabafa Ana, na sua perspetiva de filha, numa das cartas, “desengane-se quem pensa que os danos destas histórias vão desvanecendo ao longo do tempo, desaparecendo com a idade dos filhos, fugindo à medida que os pais esquecem as próprias atitudes. As consequências marcam personalidades, fazem parte de uma história de vida, de um crescimento que se queria saudável…”.
Marcas que perduram toda a vida
Como explica Patricia Mendes, coautora do livro e psicóloga, quando “estamos a falar de um divórcio conflituoso que conduz a um processo de alienação parental estamos inevitavelmente a falar de uma situação ainda mais dolorosa para os filhos. Deixa de existir automaticamente tudo aquilo de que estes filhos mais precisavam nesta fase de insegurança, incerteza, mudança e perda – o espaço de comunicação privilegiado com ambos os pais e o espaço seguro de exposição dos seus sentimentos, angustias e medos desaparecem. Há muitos ‘não ditos’ e silêncios ou, por outro lado, demasiado ruído que acentua a revolta, a raiva, a culpa, a tristeza destes filhos”. E os efeitos nefastos não ficam por aqui: “acentua-se também o medo do abandono, o medo da perda de afeto…crescem com aquela fragilidade que é o divórcio dos pais, fragilidade demasiado grande porque cresceu através de conflito constante. Crescem com o medo de perderem um dos pais ou ambos, esquecendo o que é a união familiar, numa angústia e tensão enormes originadas pelo esforço inevitável para não desiludir nenhum dos pais que, por sua vez, se colocaram em lados opostos e sentidos pelo filho como inimigos”. Como resultado desta batalha, “é comum verificarmos nestes filhos personalidades marcadas pela falta de valor, a baixa autoestima e autoconfiança, traços de ansiedade, tristeza… são geralmente adultos ansiosos e/ou deprimidos, inseguros, cansados, que cresceram a ter que jogar sabendo que perdiam sempre”, garante a psicóloga.
Ana tinha 14 anos quando os pais se separaram e se começou a cavar um fosso entre ela e o pai. Nestes processos, conta, “todos os intervenientes acabam por ter um papel ativo, porque a dada altura era eu que dizia que não queria ir, não queria estar com o meu pai, não tinha vontade de o ver nem de o visitar, afinal torna-se quase um desconhecido com o passar do tempo. E não queria mesmo, não era a minha mãe que mo dizia… até porque não é imprescindível a existência de acusações ou pressões explícitas. Sente-se…vive-se…e é o que se sente e vive que deixa marcas, tal como o que se ouve”. Contudo, “o que senti sempre foi que o meu pai não lutava o suficiente…mas hoje é mais fácil perceber que ele próprio, tal como a minha mãe, se sentiu também agredido, também ele teve que gerir uma série de situações difíceis num contexto de fragilidade para todos. Todos sem exceção”.
Na maioria das histórias de divórcios litigiosos e alienação parental, tal como na de Ana, os filhos raramente são ouvidos. “É muito comum falar-se dos filhos, mas muito raro ouvi-los. São os mais falados e os menos ouvidos…e não estou a falar de instituições ou de tribunais, estou a falar da família, na sua casa pelos seus pais”, lembra Ana, afirmando que “ouvir-nos deve ser demasiado difícil… Porque até para mim era difícil ouvir-me no meu silêncio, até há pouco tempo. Talvez por ser impossível ouvir-nos sem colocar em causa o seu papel de pai, de mãe, de protetor, de familiar que ama… de profissional ou, simplesmente, de ser humano e pessoa que participa na sociedade em que conflitos parentais e os processos de alienação surgem e acontecem, se quisermos alargar a conversa à sociedade em geral”.
Por isso, defende Patrícia Mendes, “como sociedade, é preciso ouvirmos os filhos, é preciso sensibilizar através destes testemunhos, mas também é preciso um trabalho mais direcionado da parte de instituições e técnicos que acabam por contactar com estes casos”.
O bem comum mais poderoso
Ouvidos ou não, a realidade é que estes filhos, crianças ou adolescentes, veem-se envolvidos num conflito que aos seus olhos é uma guerra perdida. Uma rutura deste grau é, obviamente, difícil de gerir. “Estamos a falar dos sentimentos de cada elemento do casal, que por si já são difíceis de gerir individualmente”, nota a psicóloga, reconhecendo que a raiva, a tristeza e a desilusão dos pais não são menos importantes ou secundários. Pelo contrário, “quer dizer sim que tudo isso não pode nem deve ser elaborado e ‘descarregado’ na relação com os filhos”.
Contudo, é exatamente aqui que começa o “sentimento de posse”, no momento em que “não se consegue dissociar a ex relação conjugal da relação paterno-filial e se mina esta ultima com as angústias, raivas e mágoas que a primeira deixou”. Se pensarmos bem, reflete Patrícia Mendes, “os filhos são o único bem comum que existirá sempre e, portanto, o mais poderoso”. E se existir como pano de fundo uma raiva dirigida ao outro progenitor, “misturando o pouco bom senso e o objetivo cego de atingir o outro”, temos o “cenário perfeito para o desenvolvimento destes casos”.
Ana conhece perfeitamente esse cenário ou não tivesse ela própria sentido na pele os arremessos que os pais trocaram naquela altura. “Era inevitável assumir que a culpa daquele ódio, daquela raiva, daquela guerra era minha. Afinal eu e a minha irmã eramos as únicas ‘coisas’ que eles mantinham em comum… não é fácil entender isso”. Na altura, acrescenta, é tudo “demasiado confuso e obscuro. Há muito ‘não dito’, muita mágoa que só eles entendem, muita raiva… o problema é que antes disso tudo atingir o outro já nos atingiu a nós… e não é fácil de gerir, nada fácil… Obviamente ambos nos magoaram, fizeram doer quando era suposto protegerem e dar segurança”. E pensar que “isto” passa com o tempo é pura ilusão.
“As marcas ficam para sempre. Há marcas que se tornam características da personalidade, há outras que surgem só nos dias de chuva, outras que se revelam um vez por ano no Natal ou no dia de aniversário… E há marcas de culpa. Culpa por ter participado numa guerra que não escolhi, mas em que tive um papel ativo demasiado marcante e tremendamente pesado”, assume Ana, acrescentando que, apesar de adulta, “ainda é difícil falar disto sem sentir uma dor física, intensa, no peito”. Apesar de tudo, Ana considera ser “uma privilegiada”, por ter crescido com “pessoas que me têm ajudado a construir a minha história e a compreendê-la. Encontrei formas de dar voz ao que sentia sem prejudicar ninguém e construi uma narrativa sobre as minhas emoções e a história da minha família”. As cartas que partilha no livro “Pai, vem me ver…” fazem, aliás, parte desse processo.
No caminho sinuoso que foi obrigado a percorrer, Pedro viu-se compelido a aceitar um acordo que lhe permite estar com os filhos apenas de 15 em 15 dias e quartas-feiras. Apesar de assegurar que tem uma relação fantástica com os filhos, sabe que ela foi prejudicada neste jogo perverso: “jamais vou viver o que perdi em cada noite que eles não dormiram comigo, nunca poderei colmatar a falta do pai que os meus filhos tiveram e continuam a ter no seu dia-a-dia, há sorrisos que eu jamais verei no rosto dos meus filhos”, lamenta. Neste processo aprendeu também que desistir deve ser uma “palavra proibida para qualquer pai” e que os filhos jamais devem ser usados como “veículo” de transmissão de mensagens. “Por mais razões que tenham, mantenham os filhos afastados do conflito, deixem-nos amar livremente ambos os pais e deixem-nos ter um pai e uma mãe”.
“Não quero que a minha filha deixe de ter mãe, mas não aceito que fique sem pai”
“Um dia a minha filha vai ter tempo de ler tudo o que fiz e escrevi sobre ela. E se ela me perder como pai, vai saber que não a perdi como filha. Vai saber que tudo fiz para evitar isso”. Duarte Mousinho acaba de saber que a filha, com quase seis anos, mais uma vez, não vai passar o Natal consigo. “Nunca passou”, lamenta. Ana vive nos Açores sozinha com a mãe, longe do pai, dos quatro avós e dos tios, que residem em Évora. Foi levada em Setembro de 2009, sem avisos nem esclarecimentos. No arquipélago, havia já uma casa e um colégio à sua espera. “Hoje sei que a minha ex-mulher já tinha tudo planeado”, conta. Duarte esteve sem ver a filha até Março de 2010. Entretanto, o Tribunal decidiu que o pai pode estar com ela “uma semana no Natal - que nunca estive - uma semana na Páscoa e duas semanas nas férias do verão”. No entanto, a realidade é mais dura: “duas ou três semanas antes começo a fazer requerimentos ao Tribunal e a enviar emails à mãe e só estou com a menina à força de intervenção policial e ameaças do Tribunal”. Além disso, ficou ainda decidido que Duarte podia falar com a filha duas vezes por semana via Skype e ao telefobe sempre que quisesse. “Na prática, não tenho qualquer contacto com ela no dia-a-dia: a mãe não atende ou se atende diz que a menina não pode falar”. Restam-lhe as férias. “Como não sou educador - não sei quem são os seus amigos, colegas, nem a escola onde anda, nem professores, nem qualquer pormenor da sua vida quotidiana – só posso ser o chamado pai ‘bombom’: só sirvo para a diversão… infelizmente”. Mesmo assim, há todo um trabalho de reconquista que tem de fazer sempre que está com ela. “A minha filha é uma menina inteligente, mas é manipulada como é natural e usual. Quando chega perto de mim vem super feliz, mas ao fim de horas inicia o discurso que lhe foi incutido meses a fio”, lamenta Duarte, confessando que “cabe-me a mim mostrar-lhe, através de provas de amor e sem nunca dizer mal da mãe, que aquilo que ela lhe diz não é verdade”. E o que faz continuar a lutar? “Ouvi-la dizer, no final, que as férias foram tão pequenas!”
Pôr o dedo na ferida
Cartas de uma filha cruzadas com o diário de um pai, levam-nos a conhecer um pouco melhor o que é viver “na tormenta da alienação parental”. “Pai, vem me ver” relata as histórias reais de Ana e Pedro, dão-nos duas perspetivas diferentes do mesmo drama: a de uma filha, apanhada no meio de uma batalha conjugal, e a de um pai, impedido de estar com os filhos durante um divórcio litigioso. Histórias que falam da destruição do “direito à liberdade nos afetos, nos sentimentos e nas ações” e que revelam como os filhos são os maiores derrotados nesta perversa guerra conjugal. Porque as preocupações primordiais em relação aos filhos – proporcionar bem-estar, segurança, felicidade - são “largamente ultrapassadas pela necessidade de atingir o outro”. “Este livro surgiu exatamente porque todos os dias contacto com histórias desta natureza, histórias de separação dos pais, evoluindo algumas para processos de conflito eminente e de alienação parental”, explica Patrícia Mendes, psicóloga e coautora. Nuno Vilaranda, autor principal, confessa que também ele já viveu a sua “pequena história”, o que o motivou a passar para o papel a dura narrativa do seu amigo Pedro e a ser cofundador, em 2010, do Núcleo Regional de Évora da Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Direitos dos Filhos (APIPDF). “Os pais, mães, filhos e avós que nos procuram sentem acima de tudo uma enorme injustiça, não querem ser apenas uma ‘visita’, querem ser pais, mães e avós a tempo inteiro e os filhos procuram ser ouvidos e tentam perceber porque não podem ser livres nos seus afetos”.
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