“São os pais que vão fazer a mudança”
Sexta, 29 Setembro 2017 | Visto - 2780
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Diz que os pais andam “perdidos”, mas que vão ser eles a ter o papel fulcral na divulgação e adesão à homeopatia. Que, garante, pode ser usada desde que o bebé nasce e nas mais variadas situações. Sem quaisquer efeitos secundários.
A homeopatia pode e deve ser usada desde que o bebé nasce. Sozinha ou em complemento com as terapêuticas tradicionais. E vão ser os pais, ao testar os medicamentos e passar a palavra, que vão ser os mentores desta “revolução” de mentalidades. Quem o garante é Michèle Boiron, uma das herdeiras do império Boiron (líder mundial na produção e comercialização de medicamentos homeopáticos), que esteve em Portugal para lançar o seu mais recente livro: “Homeopatia, o Guia dos Profissionais em Pediatria”.
Quando é que a homeopatia começou a ser usada em Pediatria ?
Michèle Boiron: Dada a sua eficácia e a vantagem de não ter efeitos secundários conhecidos, a homeopatia é uma opção terapêutica em pediatria. E, como tal, tem sido usada desde sempre. Pode ser usada sozinha ou em complemento de terapêuticas mais tradicionais.
Em que casos é aconselhada ?
MB: Em todos… Pode ser utilizada em primeira linha em todos os problemas habituais do recém-nascido e das crianças (problemas digestivos, vómitos, dores de dentes, cólicas, etc.) mas também pode ser usada como complemento de outros tratamentos, uma vez que não existe qualquer interação medicamentosa (costumo dizer que é “uma cor dentro da paleta” em prol da saúde dos pacientes). No caso dos recém-nascidos e das crianças é importante ter a opinião de um profissional de saúde.
Quer dizer que a homeopatia pode ser usada desde que o bebé nasce…
MB: Sim, a partir do nascimento, tendo sempre presente que é necessário dissolver os grânulos num pequeno biberão de água. E nalguns casos, como nas cólicas, têm um efeito muito rápido. Por outro lado, para a grávida são a solução ideal uma vez que nesta fase há muitos medicamentos que ela não pode tomar…
Os medicamentos homeopáticos são 100 por cento seguros?
MB: Para começar, são medicamentos e, como tal, sujeitos a uma regulamentação muito rigorosa. Além disso, não apresentam quaisquer efeitos secundários, o que tem a ver com o facto da sua preparação ser feita através de diluições sucessivas da substância de base.
Há quem diga que os medicamentos são apenas água e açúcar e que funcionam através do efeito placebo…
MB: De facto, ainda há ideias que não evoluíram desde o início da homeopatia, há 250 anos…
É verdade que o mecanismo de ação dos medicamentos homeopáticos ainda não foi demonstrado mas, ao contrário, a sua eficácia já foi provada em muitos estudos clínicos, em particular num estudo fármaco-epidemiológico EPI-3 realizado em grande escala em França, que demonstra a importância dos medicamentos homeopáticos no arsenal terapêutico atual, dada a sua eficácia e a ausência de efeitos secundários.
Como é que se pode falar em efeito placebo em veterinária, por exemplo, quando se trata mastites nas vacas, partos difíceis ou o stress dos cavalos de corrida? O efeito placebo existe na medicina, mesmo na relação médico/doente, mas não é mais significativo na homeopatia do que noutras terapêuticas.
Em Portugal, ainda existe alguma desconfiança em relação à homeopatia por parte dos pais, daí a escassez de procura desta terapia. O que se pode fazer? É necessário uma revolução?
MB: Não penso que seja necessária uma revolução. As coisas acabarão por acontecer por si… Na nossa sociedade, assiste-se atualmente ao crescimento da noção “vida sã, corpo são”, defende-se a prática de exercício físico, a comida saudável, a utilização adequada de medicamentos, como os antibióticos… (e nós temos a oportunidade de ter medicamentos que salvam vidas se forem bem utilizados!). Se fizermos as coisas com peso e medida, penso que a homeopatia tem o seu lugar neste novo modo de conceber a vida. A desconfiança vem da ignorância…
É necessário convencer os pediatras, os farmacêuticos ou os pais?
MB: É necessário informar todos os profissionais de saúde (farmacêuticos, médicos, pediatras… uma vez que estamos a falar de medicamentos), mas também os pais porque muitas vezes são eles que procuram soluções não agressivas e eficazes para os seus filhos (há muita coisa disponível no mercado, e as pessoas estão um pouco perdidas….).Ou seja, são as famílias que, falando com outras, têm um papel fundamental nesta mudança.
Apesar desta “desconfiança”, há medicamentos, como o oscillococcinum, que começam a ser populares entre nós…
MB: Isto aconteceu porque o oscillococcinum (que é o medicamento homeopático mais conhecido em todo o mundo) foi um medicamento proposto pelos profissionais de saúde e testado pelos seus utentes/pais, que o adotaram e, por sua vez, o recomendaram a outros.
De farmacêutica a conferencista
Michèle Boiron, filha de Jean Boiron (que, juntamente com o irmão gémeo, Henri, fundou a Boiron em 1932), nasceu em 1944 e seguiu os passos da família: depois do diploma de farmacêutica em 1968, inicia a carreira na farmácia da mãe, a Farmácia Boiron, em Lyon, onde apenas se vendem medicamentos homeopáticos.
Nove anos mais tarde, compra a sua farmácia e cedo se revela o seu instinto empreendedor: em oito anos
multiplica por oito o volume de faturação. Em 1986, regressa à farmácia da família, mas introduz os medicamentos alopáticos (tradicionais) pois acredita que os dois são complementares.
Em 1990 escreve o seu primeiro livro “Homeopatia, o aconselhamento no dia-a-dia” (em 2012 era já autora de oito livros traduzidos em pelo menos 14 línguas), ponto de partida para uma série de conferências por todo o mundo junto dos farmacêuticos, o que ainda hoje faz com grande prazer e notoriedade.
Em 2008 é distinguida com a Legião de Honra pela ministra da Saúde francesa pelo seu trabalho a favor das crianças. Hoje, a par do seu papel ativo com vista à promoção e desenvolvimento da homeopatia pelos quatro cantos do mundo, participa na vida de várias associações que intervêm em meio hospitalar junto de crianças doentes.