Primeiras férias sem os pais
Sexta, 22 Julho 2016 | Visto - 11480
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Para os filhos é uma aventura, cheia de expectativas, emoções e novas experiências. Para quem fica, este voo desacompanhado causa um misto de orgulho – “que grandes!” – e de preocupação – “será que vai correr tudo bem?”. A boa notícia é que quase sempre corre tudo bem. E, no regresso a casa, todos estão mais crescidos.
Mariana tem “12 anos e meio”, como gosta de lembrar, e está a fazer as malas para passar uma semana em Espanha. Cavaleira juvenil federada, vai participar num campo de verão organizado pela sua escola de equitação e por uma congénere na zona de Toledo. É a primeira vez que sai de férias sem os pais ou os avós e a mãe, Sandra Viana, esconde mal a preocupação. “Ela é responsável, vai com algumas amigas e dois professores, acredito que lá existe segurança e, principalmente, vai aprender coisas novas e divertir-se. Mas não estou completamente descansada. Se fosse possível, ia com ela!”, confessa.
Depois de anos de férias em família ou com amigos próximos, chega a altura de dar o passo seguinte: os primeiros dias fora sem pais, avós, tios ou adultos “de todos os dias”, como diz Mariana. A pré-adolescente está entusiasmada, “até me pediu para lhe ensinar frases em espanhol”, sorri a mãe que, até ao momento, apenas a via sair “no máximo por dois dias, para ir a competições. Já sei que agora vai ser assim, é uma questão de habituação…” admite.
Evolução em família
“A primeira vez que uma criança ou um jovem vão de férias fora do universo protetor da família marca o início de uma etapa importante no seu processo de autonomização. Antes desse momento, a exploração e conhecimento do ‘mundo’ eram feitos com a segurança da presença de adultos significantes. No momento em que esses adultos não estão presentes, é todo um novo conjunto de desafios que se colocam”. Quem o afirma é o psicólogo Mauro Paulino, para quem esta é uma oportunidade imperdível tanto para os filhos como para os pais. No caso dos primeiros, estarem mais entregues a si mesmos num ambiente estranho “ajuda a aumentar as competências sociais e a perceber que existem outros modelos de funcionamento de grupo, outras dinâmicas e outros conjuntos de regras e limites para além do seu quotidiano habitual. Também é importante para a aquisição de ferramentas para lidar com a conflitualidade, gerir a frustração e procurar consensos. E é tudo isso que os ajuda a crescer”, refere o mesmo especialista.
Já para os adultos, “o tempo em que os filhos estão fora de casa pode ser transformado num período de novas conquistas e de análise”, garante Mauro Paulino. “É uma altura perfeita para avaliar a qualidade da relação de casal e até que ponto ela é autónoma da presença das crianças. Acredito que quanto mais satisfeitos estiverem os adultos, mais facilmente deixarão os filhos ‘voar’. Nesta fase apenas por alguns dias, depois por períodos mais longos, quase como uma preparação para a vida autónoma que caracteriza a idade adulta”.
Queda dos reizinhos
Inês Mendonça organiza campos de férias nas pausas escolares há mais de dez anos, numa quinta na região de Santarém, e concorda em absoluto com a perspetiva de que as férias sem adultos podem mudar a vida dos mais novos. “Tenho conhecido miúdos que aqui chegam como autênticos ‘reizinhos’. Não sabem fazer uma cama, nunca puseram a mesa e nem sequer se lembram que se não colocarem a toalha de banho no estendal, no próximo duche vai estar encharcada! Para já não falar de alguns que estão convencidos de que o mundo gira à volta deles”, revela.
Mas, rapidamente, os ‘reizinhos’ adaptam-se à nova realidade. “Uma das coisas mais engraçadas que acontecem nas duas semanas de campo é ver como este tipo de crianças mudam. Salvo raras exceções, adaptam-se bem e saem daqui muito mais ‘desenrascados’ e com novas amizades”. E os laços feitos durante as férias são, por vezes, tão fortes que exigem repetição da experiência. “Tenho alguns grupos que passam férias juntos há dois, três, quatro anos. A evolução destes miúdos é uma coisa fantástica de se ver!”, afirma Inês.