Gonçalo Tavares

 

A dificuldade de oferecer movimentos

Escrito por Gonçalo M. Tavares Sexta, 27 Abril 2012 | Visto - 4416

A senhora Ba tinha uma cadeira à sua frente. E a senhora Ba disse isto é uma cadeira.


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A senhora Ba disse: há dois tipos de acções: as que são usadas para descansar e as que são usadas para trabalhar. Entre as duas existe a dança, que é uma arte antiga usada para descansar e para trabalhar ao mesmo tempo. Ou melhor: é usada para que, quem vê ao longe, pense que estamos a trabalhar. Porque a dança, em princípio, mexe o corpo de um lado para o outro, e assim fica evidente que não estamos numa cadeira a descansar. Mas é certo: também não estamos a trabalhar. Estamos a dançar.

- Se os patrões vivessem muito longe dos empregados estes não precisavam de trabalhar. Isto é a minha opinião – disse a senhora Ba. - Para fingirem muito esforço dançavam de um lado para o outro com cara de esforço. Porque o fundamental é mesmo a cara de esforço. Cara de esforço significa trabalho. Cara de satisfação significa descanso e boa-vida. Vejam por exemplo – disse a senhora Ba – vejam a minha cara de esforço. Estão a ver? Agora, vejam a minha cara de descanso. Vêem?

Uma cara de esforço, uma cara de descanso, e a terceira cara é a cara de quem dança. Que é uma cara intermédia. É a cara do meio. Aqui vai a minha cara intermédia.

(E a senhora Ba começou a dançar. E, enquanto dança, faz um rosto de quem dança.)

Depois a senhora Ba parou de repente e disse:

- Não pensem que é fácil fazer uma cara de quem dança no momento em que se dança. Há muito boa gente que no momento em que dança faz uma das outras duas caras: ou a cara de esforço, o que é uma canseira para quem vê a dança - ou então cara de descanso, o que faz adormecer os espectadores. Portanto, caros amigos, vou tentar fazer de novo algo extremamente difícil: dançar e ao mesmo tempo ter no rosto um rosto de dançarina. Preparem-se, é muito difícil. É como aquela mulher que não conseguia assobiar e andar ao mesmo tempo. Aqui vai. É muito difícil.

E a senhora Ba, divertida, começa a andar e a tentar assobiar ao mesmo tempo.

- Não pensem que é fácil.

E de novo a senhora Ba faz tentativas para andar e assobiar ao mesmo tempo, até que finalmente consegue e fica toda contente.

E AGORA, de novo, A SENHORA BA DANÇA.

Depois de dar dois passos de dança a senhora Ba perguntou: mas como é que se dão dois passos de dança? Um bombom e duas flores, eu sei como dar a alguém. É bonito e as pessoas gostam. O bombom come-se e as flores cheiram-se; as pessoas olham para elas, para as flores, e passando com a mão no estômago, consoladas, como se tivessem acabado de almoçar muito bem, as pessoas dizem: ai, que flores tão lindas! Dar rosas eu sei, dar bombons eu sei, mas como é que se dão dois passos? –perguntava a senhora Ba. Por exemplo, se eu te quiser dar dois passos em que recipiente os entrego? Não há uma bandeja suficientemente grande para lá colocar os meus dois passos de dança para te oferecer, e não há caixas para guardar os passos de dança porque é assim – explicou a senhora Ba – os passos de dança; desaparecem no momento em que tu os ofereces aos outros, o que é muito aborrecido, disse a senhora Ba. Podem até ficar ofendidos contigo: é que ofereces e tiras no mesmo instante, e isso é quase pecado, não se faz, menina Ba - disse a senhora Ba para si própria.

Mas mesmo que fiquem ofendidos – disse a senhora Ba – vou oferecer-vos mais uns tantos passos de dança; vejamos: 33.

É isso. 33 passos de dança. Aqui vão.

E a senhora Ba começou a dançar exactamente 33 passos de dança, acompanhados da contagem respectiva: 1, 2, 3, 4, 5, até ao 33.

No fim a senhora Ba baixou-se e agradeceu ao público.

Muito obrigada - disse a senhora Ba –, muitíssimo obrigada. Dei-vos 33 passos de dança. Espero que os tenham recebido. E guardado. Não sei aonde.

 

Diálogo sobre o aprofundar

Escrito por Gonçalo Tavares Quinta, 19 Abril 2012 | Visto - 3471

Dois meninos queriam conhecer o mundo, mas não podiam sair de casa. Queriam ver o mundo de cima. Foram buscar um mapa da terra e colocaram-no no chão.

   

Viagem ao país dos objetos com alma

Escrito por Gonçalo M. Tavares Terça, 10 Abril 2012 | Visto - 5156

É verdade que sempre pressenti que os objetos fossem muito mais do que apenas coisas burras e paradas que esperam ordens nossas.


   

A dança de 450 gramas

Escrito por Gonçalo Tavares Terça, 07 Fevereiro 2012 | Visto - 3522

A terceira lição de dança da senhora Ba.

- Hoje vou falar sobre o peso da dança

- Mas antes, vou contar uma história. É rápido.

   

A cobra que engoliu um segmento de recta

Escrito por Gonçalo Tavares Quinta, 02 Fevereiro 2012 | Visto - 5686

A cobra que engoliu um segmento de recta

Era uma vez uma cobra tão gulosa que comia tudo o que lhe aparecia à frente. Um dia, sem o notar, engoliu um bocado de linha recta.
A cobra, mal engoliu esse tal segmento de recta, percebeu que alguma coisa lhe tinha acontecido ao corpo. É que a cobra não mastigou como deveria ter mastigado. Ao engolir de uma vez, ela não conseguiu fazer a digestão desse bocado de linha recta. O corpo da cobra ficou, assim, todo direitinho. Ela já não conseguia dobrar e enrolar o corpo como fazem as cobras habitualmente.
Assustada, a cobra tentou afastar-se dali, mas não conseguiu mexer-se. Como tinha engolido a linha recta, não conseguia dobrar-se como fazem as cobras para se movimentarem. Estava direita como uma tábua ou como um pedaço de ferro.
E, de repente, no bosque, começaram a ouvir-se gritos. Todos os animais fugiam, gritando: fogo, fogo!
Alguém tinha pegado fogo à mata.
A cobra também tentou fugir, mas continuava a não conseguir sair do sítio. Ainda sentia ao longo do corpo aquele bocado de linha recta - ainda não tinha feito a sua digestão.
Os animais em fuga, passavam pela cobra e diziam:
- Então, não foges? Tu que és tão rápida!?
- É que eu engoli uma linha recta – dizia a cobra aos gritos, mas os outros animais já nem a ouviam. Todos estavam com muita pressa, alvoraçados, a fugir do fogo.
De repente, quando a cobra começava já a pensar que não tinha nenhuma hipótese de fuga, vieram parar mesmo ali, ao pé da sua boca, duas bolas de ténis, que algum mau jogador atirara desastradamente para aquele sítio.
A cobra nem pensou um segundo: engoliu, de uma vez, as duas bolas de ténis. Por sorte, uma rolou mais para trás do corpo, e a outra ficou alojada logo a seguir à garganta. A cobra, quase sem saber como, tinha conseguido duas rodas para o corpo. E aproveitando assim as bolas de ténis como se fossem as rodas de um automóvel, a cobra começou a deslizar, afastando-se das chamas.
Claro que mesmo assim não era nada fácil a fuga da cobra. Ela ainda não tinha feito a digestão do pedaço de linha recta e portanto deslizava sobre as bolas de ténis, toda direitinha, sem conseguir dar curvas. Enquanto ela fugia lembrou-se com saudade dos seus antigos movimentos. Antes, ela conseguia rodear uma árvore e mudar constantemente de direcção, sempre a grande velocidade. Agora, não tinha alternativa: era sempre em frente, sem curvas.
- Porque fui eu comer aquela linha recta! – culpava-se a si própria, a cobra. A cobra gulosa.

   

O menino que cresceu no jardim

Escrito por Gonçalo Tavares Quinta, 26 Janeiro 2012 | Visto - 7371

Era uma vez um jardineiro que todos os dias, ao fim da tarde, regava um menino para ele crescer.


   

Movimentos legais e movimentos tristes (lições de dança)

Escrito por Gonçalo M. Tavares Quarta, 11 Janeiro 2012 | Visto - 4713

Começou a segunda lição de dança da senhora Ba.

Acredito – disse a senhora Ba – que há danças para a alegria e há danças para a tristeza, e eu não percebo por que razão as pessoas só dançam na alegria.

Acredito que se deviam ensinar nas escolas danças para dançar nos momentos tristes.


   

O dicionário do menino Andersen (5)

Escrito por Gonçalo Tavares Quinta, 17 Novembro 2011 | Visto - 5444

A última parte do dicionário deste menino. De A a Z.

   

A cobra que engoliu um segmento de recta (2)

Escrito por Gonçalo Tavares Terça, 01 Novembro 2011 | Visto - 4968

A verdade é que, com maior ou menor dificuldade, a tal cobra que havia engolido um segmento de recta, ou seja, a pequena parte de uma recta, lá conseguiu escapar do fogo – sempre seguindo na mesma direcção, toda direitinha até à beira de um rio. Aí parou.

   

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Editorial.

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