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Utilizar marcos festivos, como o Natal e os aniversários, ou enumerar tarefas e rotinas por cumprir são boas estratégias para responder a uma pergunta simples, muitas vezes com resposta difícil: «Quanto tempo falta»?

Sara soube que iria ter um irmão ao mesmo tempo que o pai. Tinha seis anos quando a mãe anunciou a novidade, numa manhã de Outono.

«A felicidade foi tanta que não consegui esconder o resultado do teste e contei logo aos dois», explica Stélia Santarém. «Quando nasce?», perguntou a menina. «Ainda vai demorar muito tempo. Quase como de um Verão ao outro», explicaram-lhe.

Foi o suficiente. Até a barriga aparecer, Sara não fez muitas perguntas. Só queria ter a certeza de que era uma menina e nem sequer teve de esperar muito pela confirmação. O tempo foi passando com tranquilidade.

Só quando chegou aos sete meses de gravidez da mãe, Sara começou a mostrar-se impaciente. «E agora? Ainda falta muito?», perguntava com frequência. «Resolvi fazer com ela um calendário, com os números a cor-de-rosa e a data prevista assinalada com um coração. Todos os dias, riscávamos um número», explica Stélia.

A estratégia resultou e a natureza correspondeu. Na véspera do dia ansiado, a Sara estava excitadíssima - «Oh, mãe! É amanhã!», repetia. Não havia sinais de parto à vista e Stélia viu-se obrigada a explicar que podia não ser bem naquele dia e que era preciso ligar ao 'doutor' para ter a certeza.

Mas o desapontamento de Sara não durou sequer a noite inteira. As contracções vieram pela madrugada e a Rita nasceu no dia previsto, tal e qual ditava a espera marcada pelo calendário.

Nove meses demoram a passar e nem sempre é fácil para os pais explicar às crianças quanto falta para o nascimento de um irmão. O tempo é uma noção abstracta que demora muito a perceber.

«A construção do conceito de temporalidade é um processo longo e progressivo. Até aos 2 anos de idade a noção de tempo é condicionada por determinados acontecimentos que se sucedem ao longo do dia, por exemplo, a hora de comer, a hora do banho, a hora de dormir», explicam as psicólogas Ana Teixeira e Joana Dolgner, do Gabinete de Psicologia, no Porto.

Não é por acaso que as semanas e os meses fazem parte do programa escolar do segundo ano e são ensinados por volta dos sete anos. Até lá, há um longo processo de aprendizagem que começa com noções como antes e depois e evolui progressivamente para o ontem e hoje, semana e fim-de-semana.

Passado e Futuro

Patrícia Gago está habituada a traduzir as expressões dos mais pequenos. A educadora de infância recebe-os aos três anos, quando a distância entre os dedos indicadores e os braços ainda são a melhor forma que encontram para explicar muito ou pouco tempo.

E sabe que, mesmo quando trabalhadas, conceitos como o passado e o futuro demoram a ser interiorizadas. «Até aos quatro, cinco anos, muitos ainda se baralham. Chegam à escola e dizem: Amanhã, fui à praia! Quando o querem contar o que fizeram no dia anterior», conta.

Qualquer que seja a idade dos miúdos, tenham três ou cinco anos, o desafio para Patrícia é constante. «Quando é que vamos brincar?», «Quanto chega o Dia da Árvore?», «Quanto tempo falta para as férias?», perguntam-lhe.

«Procuro explicar-lhes enumerando as tarefas que ainda vão ter de cumprir. Digo-lhe por exemplo: Primeiro ainda vais ter de almoçar, depois tens de lavar os dentes, depois ainda vamos fazer outra coisa...», exemplifica.

Se estão em causa vários dias, o conceito de noite, com que até os mais pequeninos estão familiarizados, ajuda. «Até ser o Dia da Mãe, ainda vais ter de dormir duas vezes na tua cama, de noite, quando for escuro, só depois é que podes dar a prenda à mãe», diz.


O concreto

Para o João Pedro, que tem quatro anos e mora em Lisboa, o passado e o futuro não têm qualquer dificuldade. «Ele diz muitas vezes 'quando eu era pequeno aconteceu isto e aquilo' (pode ter sido há uma semana, mas ele sabe que já passou) e percebe bem quando lhe dizemos «Amanhã vamos fazer qualquer coisa», conta a mãe, a guionista e escritora Raquel Palermo.

Os problemas surgem quando há um programa excitante como uma ida ao Oceanário ou ao Jardim Zoológico para daí a uma semana. «Todos os dias pergunta: já é hoje?», conta, divertida.

Para evitar desilusões, os pais passaram a anunciar as coisas boas mais perto do dia. E para intervalos mais curtos socorrem-se das actividades: «ainda vais ter um dia com ginástica, depois outro em que não tens, depois outra vez ginástica e só depois é que chega o fim-de-semana», dizem-lhe à segunda-feira.

O João Pedro sabe bem o que significa fim-de-semana. A expressão quer dizer passar o dia todo com os pais. «As noções de semana e fim-de-semana são adquiridas com base no quotidiano. A partir do momento em que existem diferenças de rotinas nos dias da semana e dos fins-de-semana, a criança vai-se apercebendo destas diferenças», diz a psicóloga Joana Dolgner.

O apelo ao concreto é a melhor estratégia para explicar às crianças essa noção abstracta que é o tempo. As crianças percebem quanto demora a passar um banho ou uma refeição. «Mas têm dificuldades com expressões como 'logo se vê', 'mais tarde' ou 'outro dia'», alerta a psicóloga Sofia Mendonça.

Como Raquel Palermo, também a economista Susana Coutinho se serve no dia-a-dia das actividades dos filhos e das datas festivas para explicar o tempo. Mãe da Madalena, de nove anos, e também do Francisco e da Teresa, de sete e três anos, sabe bem que «as coisas boas nunca mais chegam» na perspectiva dos mais novos.

Mas não tem dificuldades em explicar-lhes que «ainda faltam duas semanas de aulas de vela para a família ir de férias toda junta» ou que «antes do aniversário, ainda vem o Natal e depois o Carnaval. Os marcos estão sempre associados às férias», explica.


Âncoras temporais

As épocas festivas e as estações do ano funcionam como referência.

«Quando entram para a escola, sabem dizer quando fazem anos e acrescentam 'no Inverno' ou 'perto da Páscoa'. Não são noções muito exactas, se for Maio, porque já andam de manga curta, dizem que é Verão. Se for em Novembro já é Natal...», explica Adriana da Costa Vieira, professora do ensino básico.

Duarte, o mais velho de três filhos de Francisca Caldeira, é um bom exemplo. Tem oito anos e tem perfeita noção da data do aniversário, em Setembro. Mas demorou algum tempo a familiarizar-se com essa noção. «Com cinco, seis anos, baralhava-se um bocadinho, sabia a data, mas achava que Outono era o mês», conta a mãe.

«Segundo Piaget, teórico do desenvolvimento infantil, a noção de tempo cronológico, por ser um conceito abstracto, só é adquirida por volta dos 7/8 anos, idade em que a criança já é capaz de compreender os conceitos de simultaneidade (duração e sucessão do tempo) e continuidade (percepção da impossibilidade de parar o tempo)», explica a psicóloga Ana Teixeira.

Na escola, o trabalho das professoras respeita o desenvolvimento natural da criança. «Logo no primeiro ano, à segunda-feira, falamos sempre do fim-de-semana: do que fizeram no Sábado, antes de Domingo, do que fizeram no dia anterior, ontem...», explica a professora.

«Depois, vamos avançado para o mais abstracto. No segundo ano, ensinamos as semanas e os meses, e no terceiro ano ensinamos a relação entre as horas, os minutos e os segundos.»


O tempo do relógio

As horas vão sendo explicadas aos mais pequenos ao longo de todo o ensino básico. Os miúdos começam por aprender os números, depois as horas certas e as meias horas em relógios de cartolinas coloridas e só mais tarde os segundos.

«Vamos introduzindo as noções. Quando eles perguntam quanto tempo falta para o intervalo, explicamos que só toca quando o ponteiro grande chegar ao seis e assim por diante», diz Adriana.

Com os mais novos não vale a pena atirar um número. «Dizer que faltam 45 minutos ou 45 segundos é a mesma coisa. É tudo contar até 45», brinca a professora.

Confundir as contagens com o passar das horas ou com os quilómetros que faltam para chegar ao destino quando andam de carro é comum nas crianças antes da idade escolar. As viagens são um desespero para Stélia Santarém.

«Já chegámos? Quanto tempo falta?» perguntam a Sara e a irmã Rita, que entretanto já fez três anos. Os pais desdobram-se em distracções e explicam-se como podem: «Falta um soninho, depois ainda paramos para lanchar, depois ainda ouvimos outra vez o CD da Floribela...», vão dizendo.

«É importante a comparações com factos conhecidos pela criança», lembra a psicóloga Joana Dolgner. «O sítio para onde vamos fica tão longe como a casa da avó, vamos demorar 20 minutos para lá chegar», exemplifica, sugerindo ainda o recurso a materiais como mapas onde se pode assinalar o percurso e ir marcando os locais já atingidos.

Filipa Marcelino, professora do centro Gymboree, em Lisboa, concorda. E deixa ainda outro exemplo: «Filho, sabes quando tomamos banho e depois vamos jantar? A nossa viagem também dura o mesmo, duas horas.»


O papel dos pais
Segundo Rita Ribeiro, educadora do mesmo centro, o Gymboree, «a partir dos 4 anos, a maioria das crianças já consegue lembrar-se das suas experiências e começa a conseguir contar uma história com princípio, meio e fim».

Mas isso, como tantos outros aspectos ligados à educação, «depende muito do ambiente envolvente à criança, que pode acelerar ou retardar esse processo, mediante a existência ou não de estimulação», alerta.

«Por volta dos 4 anos, os miúdos começam a conseguir seguir directrizes como 'Apanha as bolas e coloca-as na caixa'. Se a mãe disser: 'Podes pintar depois de arrumares as bolas', a criança pode processar e entender as palavras pela mesma ordem em que as ouviu, pensando que primeiro pode pintar e depois arrumar as bolas», alerta Filipa Marcelino.

Assim, explica: «A mãe deve referir-se à ordem dos acontecimentos, começando no primeiro até ao último 'Temos as férias, o Natal e depois os anos do pai'», exemplifica.

Só quando a criança já entende a sequência, podemos então trabalhar o antes e o depois: «Antes do Natal temos as férias. Depois do Natal são os anos do pai.»

Não é por acaso que os exemplos dados pela psicóloga Joana Dolgner e pela professora Filipa Marcelino a propósito das viagens incluem associada a uma explicação simples um conceito mais difícil, o tempo medido em horas.

«Os pais e os educadores, como principais agentes do desenvolvimento da criança, são os principais promotores na aquisição destes conceitos e capacidades», lembra a psicóloga Ana Teixeira.

Ajudar a essa aprendizagem passa por saber acompanhar o desenvolvimento. «Falar em eventos em termos de tempo, por exemplo, 'vou demorar 10 minutos a acabar de fazer o jantar, por isso ainda tens tempo de arrumar os brinquedos' ou dar um diário à criança onde ela possa registar o seu dia de forma cronológica», são sugestões simples para bons resultados, aconselha a especialista.

A professora Filipa Marcelino deixa ainda outros exemplos de diálogo, fundamental para a aprendizagem dos meses do ano: «Lembras-te quando estávamos no Verão (em Setembro), de férias com os avós, e depois choveu? Quando voltou a estar calor (em Maio) fomos para a praia», diz.

Mesmo com esforço e as mais variadas estratégias, explicar o tempo vai continuar a ser uma tarefa difícil para os pais. Que o diga Raquel Palermo, mãe do João Pedro, grávida do segundo filho.

«Ele estava sempre a perguntar quando é que o irmão ia nascer. E houve um dia em que lhe expliquei que o Manuel só ia nascer quando montássemos a árvore de Natal. Estávamos ainda em Junho e ele pareceu ficar convencido. Mas nesse mesmo dia, quando voltou da escola, perguntou-me: Então, vamos agora montar a árvore?»

 

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